Os 30 anos (que parecem muito mais) do Alpinist contemporâneo

Por Henrique Bolini

O Seiko Alpinist é um daqueles relógios tão difundidos pela cultura cibernética de aficcionados em relógios que dispensa quaisquer apresentações. Eu tenho certeza que vocês, leitores, já enxergam o mostrador verde com detalhes dourados, os ponteiros catedral e as duas coroas, certo? Mas saibam que a trajetória do Alpinist é pelo menos o dobro do descrito em nosso título.

Durante os anos 50, muitos do relógios comuns foram recebendo uma roupagem mais “esportiva” visando uma melhor robustez e usabilidade. Exemplos incluem o Rolex Explorer, o Omega Seamaster e o nosso assunto de hoje: o Seiko Alpinist.

Lançado no ano de 1959, o Laurel Alpinist foi criado pensando nos exploradores e montanhistas japoneses e era um relógio comum, em 35mm (tamanho médio-grande para a época) dotado de índices distintos (em formato de Alpes nas posições 3, 6, 9 e 12 horas) repletos de material luminoso e com uma legibilidade elevada. Por conta desse relógio estamos nos encontrando nesse artigo aqui, então o guardem com muito carinho.

Agora, vamos pular exatamente 36 anos e pousar em 1995. Shigeo Sakai trabalhava na Seiko há duas décadas, mas havia recentemente se juntado ao departamento de desenvolvimento de design, em 1992. De sua cabeça partiu a ideia de reviver o modelo Alpinist cuja última geração havia sido lançada em 1965. Os tempos eram outros e Shigeo decidiu não apenas reproduzir o modelo original mas sim reformulá-lo por completo a partir de uma folha em branco, mantendo apenas o nome. O resultado? Um clássico que hoje não precisa de introduções e é tão difundido que conseguiu sobrescrever mais de três décadas de história de um modelo em “um estalar de dedos”.

Hoje, passados 30 anos de seu “lançamento”, o Alpinist contemporâneo chega à sua quarta iteração, de mãos mais dadas com o modelo de 1995 do que nunca! O novo modelo está disponível em três versões que vão agradar a todos os consumidores, desde os saudosistas até os que buscam um primeiro relógio muito bem construído e versátil. Deixo os pontos comuns entre todas elas na conclusão, falemos à seguir sobre cada uma das referências disponíveis:

SPB503


O Alpinist de mostrador “azul esverdeado”, detalhes prateados e bracelete saúda os anos 2000, pois trás fortes características do modelo SSASS GMT (SBCJ023) do Alpinist.


Dele vem a cor do mostrador, os detalhes em laranja no aro interno de bússola, o disco do datador em preto com numerais brancos e a configuração do bracelete de 3 peças.


SPB505

O Alpinist de mostrador “preto sunburst”, detalhes prateados e bracelete exala sobriedade e é um aceno a um novo mercado consumidor para o produto.


Pode parecer mentira, mas a Seiko nunca havia feito um Alpinist de mostrador preto na sua clássica configuração de 1995 – todos os Alpinists pretos possuíam uma tipografia de índices diferente, apelidada de “dentes de tubarão”.



SPB507

O Alpinist de mostrador “verde profundo”, detalhes dourados e pulseira em couro marrom dispensa apresentações e indica tudo que vem a cabeça quando escutamos as palavras “Seiko Alpinist”.

É uma clara referência não só ao clássico “Red Alpinist” de 30 anos atrás como todo o seu redescobrimento e propagação com o SARB017, de 2006.


Independente de qual referência seja a sua favorita eis aqui o que você encontra ao abrir a embalagem de seu novo Alpinist:

1.⁠ ⁠Uma caixa de desenho único, que abraça o punho e mede 39,5mm de diâmetro, 46,4mm na distância entre os pinos (“lug to lug”) e 12,7mm de espessura. Essa última medida é muito importante no quadro geral, pois o Alpinist ficou mais esbelto em 0,5mm – o que pode parecer pouco em um primeiro momento, mas não é. Explico: não se esqueçam que o novo Alpinist ainda possui tampa traseira “transparente” que notoriamente deixaria o relógio mais espesso por si só, e o que a Seiko conseguiu fazer é com que ele tenha virtualmente a mesma espessura do modelo de 1995.


2.⁠ ⁠Um cristal em safira, dotado da lente de aumento tal qual o modelo de 1995. A vantagem fica por conta do tratamento antirreflexo localizada na face interna do vidro – uma jogada de mestre, pois ela não deteriora, risca ou mancha como as localizadas na face externa do cristal.

3.⁠ ⁠Sendo um bom exemplar da linha Prospex, é um relógio muito resistente. São 20ATM de resistência à água, 4,800 A/m de resistência magnética e revestimento super rígido na caixa e no bracelete


4.⁠ ⁠O novo calibre 6R55, substituindo o antigo 6R35. Muito se especula sobre o que teria mudado de um calibre para o outro em termos técnicos, mas vamos focar aqui no que conseguimos falar: a qualidade no geral subiu, seja em materiais ou acabamento. O resto? São 72h de reserva de marcha, 21.600 oscilações por hora, 24 jóias, possibilidade de corda pela coroa, função de parada do segundeiro (“hack”) e uma precisão que vai de -15 a +25 segundos por dia.

5.⁠ ⁠Mostrador com acabamento “sunburst”, índices e logotipo aplicados, ponteiros em formato catedral e generosa aplicação de material luminoso proprietário Lumebrite, bisel interno com função de bússola e a cereja do bolo: a tipografia Alpinist em sua fonte clássica de 1959 está de volta e em posição de destaque no mostrador…e sim, continua de tirar o fôlego!

Não preciso de muitos motivos para recomendar a adição de um Alpinist na sua coleção (ou inaugurar sua coleção com um), mas se me permitem tecer alguns comentários a mais, o Alpinist contemporâneo é um dos poucos exemplos de relógios acessíveis hoje que são uma espécie de “mainstream” – são diferenciados, inconfundíveis, repletos de história e relevância…e estão a apenas um clique de distância.

REVIEW SINCERO

A Impala gentilmente me cedeu um dos novos Alpinists em sua configuração clássica para poder conviver com o modelo por alguns dias e passar uma visão geral dele.

Antes de entrar em detalhes, quero deixar claro aqui que já fui proprietário de alguns modelos Alpinist e que hoje um “Red Alpinist” de referência SCVF005, ano 1997, reside em minha coleção. O intuito não é comparar o SPB507 com o SCVF005, mas sim com seus ascendentes SPB121 e SARB017 – deixo claro.

Vamos à convivência?

De cara notei que o verde de seu mostrador, com efeito “sunburst” como manda o figurino nesse modelo, exibe uma tonalidade diferente de seus antecessores e parece ser mais “fosco”. Isso pode ser impressão por conta da falta de constraste com o branco nesse modelo (todos os detalhes exceto a data do mostrador agora são dourados), é verdade, mas fiquei com a impressão de que o tom de verde reside entre o adotado por Sakai em 1995 e o adotado por Kuzuya em 2006.

Falando em contraste do verde com o dourado, o tom de dourado também sofreu alterações, parecendo mais puxado para o cobre, o que também suaviza a primeira impressão do relógio. É mais agradável olhar para esse mostrador, se posso resumir. Ainda na face principal do relógio também reside um pequeno pênalti: o numeral na janela de data deveria ter sido feito no mesmo tom de dourado – daria uma impressão a mais de produto “premium”.

Desde que me entendo por gente, o primeiro ato que fazia nos meus Alpinists verdes era remover a pulseira de couro marrom. O contraste de cores não me agradava, mas mais do que isso, o material da pulseira era…bem…aquém. No SPB507 não só o tom de marrom foi suavizado bem como o material e qualidade melhoraram – e isso foi o suficiente para que eu não trocasse a pulseira? Não, mas aqui é mais preferência minha do que desleixo da Seiko.

Ao virar o relógio para montar a NATO que resolvi colocar, o segundo (e maior) pênalti do modelo: a tampa traseira “transparente”. Eu entendo que muita gente adora ver o mecanismo funcionando e que esse tipo de tampa pode até trazer um cunho mais educativo de como um relógio mecânico opera, porém o 6R55 não é um campeão de beleza e acabamento e a adoção dessa tampa deixou o relógio mais espesso do que ele poderia ser. Eu acredito que adotando uma tampa traseira sólida daria (1) maior conforto ao usar o relógio, pois eliminaria 0.5mm de sua espessura e (2) daria mais destaque aos lindos desenho da montanha e o logo Alpinist, bem como o faziam no SARB017.

Ao vestir o relógio noto que ele continua leve, abraça o punho e transmite uma legibilidade que as fotos não fazem jus – eu garanto que ela é mais elevada do que parece. A lente de aumento realmente divide opiniões mundo afora, mas sejamos 100% honestos: ter uma complicação de data em seu relógio é muito útil e conseguir interpretá-la mais facilmente não pode ser apontado como um defeito, certo? A lente de aumento serve para isso!

Então vamos para a parte principal (dedicada a meus amigos sommeliers de calibres): o 6R55! Já disse que bonito e bem acabado ele não é, mas e o resto? Estar ali à vista para todos é um pênalti, mas não ter um acabamento de primeira linha não é um pênalti! Você por um acaso deixa o motor de seu carro sempre brilhando para que os outros vejam? Um mecanismo de nível intermediário pertencente à linha Prospex, tal qual o 6R55, deve ter em sua robustez o seu principal atrativo, não a beleza, não o acabamento. E nisso não há o que contestar já que tudo melhorou em relação ao 6R35: operá-lo no geral é mais suave, há menor ação de isocronismo e só por essas duas características já é possível perceber que a qualidade melhorou. Após 4 dias de convivência com o SPB507 o saldo foi um atraso de 40s. Nada mau para um calibre que não tem o passe diário de marcha como prioridade…

Resumo da curta epopéia? Eu indico a nova geração do Alpinist, com toda a certeza! Existem pontos à melhorar? Sim, mas vamos lembrar que o relógio atual é uma evolução nítida das versões anteriores e oferece a vantagem de não passar desapercebido em nenhuma rodinha de aficcionados, eu garanto!

As 3 cores estão disponíveis na Relojoaria Impala, claro. Acione a equipe nos canais de atendimento e WhatsApp para garantir sua peça:

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é banner-chama-no-whats-1024x289.png

Espero que tenham gostado da leitura e nos encontramos em um próximo artigo.

Forte abraço,